EU

Quem sou eu? Não me sei definir... Podia dizer que sou boa aluna, muito boa aluna, mas acho que ainda poderia ser melhor. Afinal, é a única coisa em que sou boa. Também sei escrever. Talvez por ter lido sempre muito. Os livros não me faziam perguntas nem me questionavam. Eram e são o meu refúgio. Ao ler, viajo, e posso ser quem quero. Sinto-me leve... Ao contrário da realidade. Odeio a imagem que tenho de mim - e que os outros também têm - e os meus maiores inimigos são o espelho e e balança. Tenho terror de engordar, de me transformar numa gorda, pois aí é que tudo será pior...



Sou a Teresa de sempre

Ontem à noite a minha irmã maquilhou-me e depois fomos a um bar… O M. estava lá. Por um lado, gostei de me ver assim. Mas, por outro… Fiquei com a sensação que o M. reparou e que se calhar até gozou comigo. A maquilhagem foi só uma camuflagem, uma capa. Eu sou a Teresa de sempre, a rapariga sem graça e que não brilha nunca… Nem com a melhor maquilhagem.

Não compreendo

Os meus pais dizem que estou magra de mais, que estou doente… Mas eu continuo a sentir-me gorda.

Presente Errado

Hoje experimentei a maquilhagem que os meus pais me ofereceram no Natal. Foi um erro. Senti-me ainda mais feia, artificial.
Os meus pais deviam saber que aquele presente não era para mim, mas não.
Até para eles sou insignificante.
Se já é dificil sentir-me assim com os meus amigos, com a minha familia torna-se quase insuportavel.
A minha irmã acabou de sair. Vai ter com o namorado. É estranho ter alguem que nos é tão proximo e que ao mesmo tempo não podia estar mais afastado. Ela tem tudo aquilo que nunca irei ter.

O terror da noite da Consoada

A noite de consoada foi um terror. Só vi comida por todo o lado. Tive de comer mais do que queria. Ainda assim consegui esconder muita coisa nos bolsos. Só de pensar nas calorias... Que medo! O que aquilo me ia engordar. Odiei este natal. Pior que a comida, foram os presentes. A minha irmã deu-me um saco de desporto. Como é óbvio é uma indirecta. Ela acha que eu estou gorda. Os meus pais... Nem sei o que escrever. Ofereceram-me um estojo de maquilhagem. Uau! Dizem vocês. Eu também diria se eles não me tivessem dito que é para eu ficar mais bonita. Como é obvio acham-me feia e querem que eu não pareça tanto. De certeza, que têm vergonha de mim.

O amor não é para mim

O amor e felicidade são para raparigas bonitas e magras, como a minha irmã. Eu não sou assim, por isso nunca vou ter a sorte de encontrar um rapaz que goste de mim e que me faça feliz.

Não consigo controlar o meu corpo

O meu corpo é meu mas, na maior parte das vezes, sinto que não consigo controlá-lo como quero. Sinto que estou numa luta infinita contra o meu corpo que insiste em não me obedecer e se recusa a ser como eu quero e desejo. ja

Eu já sabia!

Não podia faltar ao jantar de aniversário da minha avó, não tinha como escapar... Mas já sabia que o jantar de festa ia estragar tudo. Consegui encontrar maneiras de esconder a comida e parecer que estava a comer mais do realmente estava mas não foi o suficiente. Eu voltei a engordar.

O pesadelo do Natal

Não é que eu não goste do Natal, gosto muito. Mas este ano está a ser um pesadelo para mim. É-me dificil estar feliz e contente e ver todos aqueles doces à minha frente. Sei que vou ser forçada a comer para que não desconfiem de nada, e só esse pensamento atormenta-me. .. Ainda por cima, hoje ia sendo apanhada pela V. que apareceu sem dizer nada. Vinha com uma cara. Não me contou nada mas tenho a certeza que estava triste por causa do M.

Ignorar os outros não será violência também?

Sou completamente contra a violência física e acho o que fizeram ao nosso colega uma cobardia enorme. Mas parece que toda a gente se esqueceu que não existe só a violência física. E a violência dos actos? Ignorar alguém também é um acto de violência. Às vezes também me sinto agredida quando me ignoram, quando quase parece que não existo e sou ínvisivel. Mas ninguém se apercebe de como me sinto. Estão todos demasiado concentrados noutras coisas.
A minha avó quer que eu, por força, prove o pudim de ovos que ela fez... Estas férias de Natal vão ser um martirio para mim. Se num fim-de-semana em família engordei imenso, não quero pensar no que vão ser estes dias. Não, não posso engordar. Não posso deitar a perder o pouco que já conquistei até agora e hei-de fazer tudo para não ganhar um grama sequer.

Mais um jantar de família... O pesadelo!

Não tenho como escapar a este jantar em família...
A minha avó ia ficar muito triste se eu faltasse. Mesmo sendo um sacrificio para mim, não posso dar-lhe um desgosto destes. Até porque de vez em quando comentam que eu estou magrinha e a comer pouco.
Era bom que fosse verdade e que eu estivesse mesmo magrinha...

Vitória

Eu disse que não ia desfilar e não desfilei. Sei que desiludi a minha mãe e talvez a minha irmã, apesar dela não ter dito, mas eu não era capaz de fazer aquilo... Ia sentir-me nua, exposta e observada. Ia expôr-me ao ridículo.

O pior dia...

Tal como eu previa, hoje tive um dos dias mais horriveis da minha vida.
Não consegui escapar ao workshop e tive mesmo de desfilar numa passerelle.
Aqueles poucos minutos tornaram-se num momento interminável, que me fez gelar por dentro, e quase perder os sentidos. Não os perdi, mas gostav a de ter perdido.
Assim não tinha reparado em todos os olhares que estavam fixos em mim, a observar cada defeito meu, a analisar o quanto sou feia.
E apesar do modelo e da minha mãe me terem elogiado, tenho a certeza que foi apenas por simpatia.
Acham que eu acredito que tenho jeito para desfilar? Hoje não era eu que estava a desfilar em frente aos meus colegas. Era apenas o meu corpo. A verdadeira Teresa ficou fora da passerelle a olhar para ele e a pensar em quanto o odeia...

O mundo está a gozar comigo...

Hoje, na minha escola, anunciaram que vai haver um workshop obrigatório em que iremos aprender a ser modelos. Eu, a aprender a ser modelo. Parece que o próprio mundo está a fazer pouco de mim. Vou ser obrigada a percorrer uma passerelle com todos os olhos postos em mim. Dificilmente conseguia imaginar pior tortura. Vou fazer todos os possiveis para passar despercebida. Se pareço invisivel para todos, pode ser que também ali ninguém repare em mim. A situação aqui em casa também continua igual. Os meus pais e irmãos estão na sala a ver um filme. Uma família unida e feliz. E eu? Porque não estou com eles? A explicação é simples: porque não faço falta. A minha irmã ainda tentou convencer-me a participar. Pudera, é ela o centro das atenções. Todo o jantar se centrou nela, beberam-lhe cada palavra. Será que ela não vê isso? Para quê querer juntar-me a pessoas que apenas me vão ignorar?

Só tenho uma certeza... Só uma!

Esta manhã aconteceu uma coisa sobre a qual não sei bem o que pensar. O M. precisou de ajuda no teste de portugês e eu deixei-o copiar por mim... Eu acho que nem me importo de o ajudar, mas há alturas em que parece que ele só quer aproveitar-se de mim. Há dias em que ele é super querido mas depois há outros em que parece que só me quer para o ajudar com as coisas da escola. Além disso não consigo esquecer-me que o vi a beijar a minha melhor amiga. Não sei mesmo o que pensar. A única certeza que tenho neste momento é que me sinto cada vez mais distante de toda a gente... Sinto-me cada vez mais sozinha e a cada dia que passa é mais díficil olhar-me ao espelho porque sou incapaz de me trasformar na rapariga que desejo ser....

Uma tempestade num copo de água

Ontem senti-me esquisita na aula de educação física e sem mais nem menos desmaiei. Foi só uma quebra de tensão mas ficou toda a gente super preocupada, principalmente a minha mãe. Por mais que tentasse convencê-la que estava bem, ela insistiu para eu vir para casa descansar. O pior não foi isso, o pior foi quando ela me obrigou a comer... era imensa comida e fiquei logo mal disposta quando a vi. O meu corpo não aguentou tanta comida e deitou tudo cá para fora... Não é assim que me vão fazer sentir melhor.

Mil pedaços...

Sinto-me feita em mil pedaços. Hoje vi o M. a beijar a minha melhor amiga.  Estou tão triste, mas consigo perceber que ele a tenha escolhido... ela é muito mais gira e mais magra do que eu. Já não tenho dúvidas de que vou ficar sozinha.

Há limites!

A rapariga que sofria de anorexia, e que o meu pai andava a acompanhar, morreu. É claro que o meu pai ficou muito transtornado e abatido, mas no fundo sabia que isto podia acontecer. Continuo sem perceber como é que alguém consegue chegar ao ponto de se colocar entre a vida e a morte. Eu jamais faria uma coisa dessas. É preciso mesmo perder a noção de tudo...

Fim-de-semana maldito

Estive estes dois dias fora de Lisboa, num fim-de-semana em família. Podia dizer que adorei, que foram dois dias espectaculares... Mas não foram. Se aqui em casa ainda posso refugiar-me no meu quarto, ou ir a qualquer lado para estar um bocado sozinha, neste fim-de-semana foi impossível. Estive SEMPRE com os meus pais, a minha avó e os meus irmãos e não consegui ter um minuto que fosse só para mim. Senti-me quase numa prisão mas... Como é que ia dizer-lhes que me apetecia mais estar sozinha que com eles? Não podia fazer isso. E aconteceu outra coisa muito má. A minha irmã apanhou-me a vomitar. Eu consegui inventar uma desculpa e ela acreditou em mim. Senti-me mal por estar a mentir-lhe, mas não podia de maneira nenhuma contar a verdade. Se lhe contasse, deitava tudo a perder e não quero isso.
Cheguei agora a casa e não resisti: tive que pesar-me. Engordei 150 gramas! 150 gramas!! Eu sabia que este fim-de-semana era má ideia, eu sabia que todos me iam obrigar a comer, eu sabia que ia engordar. Graças à minha família, dei um passo atrás. A culpa é toda deles! Que fim-de-semana maldito!

Quero que a minha melhor amiga seja feliz

Um beijo pode dizer-nos muito sobre uma relação. Há uns tempos escrevi sobre a primeira vez que vi o M. a beijar a V. aqui no meu quarto. Nesse dia senti-me mal porque gostava do M., mas houve qualquer coisa nesse beijo quie não me trasmitiu um bom sentimento. Ver o B. beijar a V. é complemente diferente. Existe harmonia e compreensão e isso faz-me ter esperança de um dia vir a ter um beijo assim. Um beijo que me faça sentir completa.

Estes têm sido os piores dias da minha vida

O rapaz de quem eu gosto e a minha melhor amiga faltaram às aulas da tarde. Não é preciso pensar muito para perceber por que é que eles faltaram… Para estarem juntos. Estes têm sido os piores dias da minha vida. Se antes achava que era infeliz, não sabia ainda o que me esperava. Cada dia que passa gosto menos da imagem que o espelho me mostra. Cada vez que vejo o meu reflexo desejo ser outra pessoa qualquer que não eu. Quero ser bonita e sei que conseguir isso só depende de mim, de mais ninguém. Estes têm sido os piores dias da minha vida. Se antes achava que era infeliz, ainda não sabia o que me esperava.
Eu queria tanto ser como as outras raparigas da minha idade. Não quero continuar a sentir-me como me sinto: uma miúda, feia, gorda e sem graça nenhuma. Eu quero ser feliz – também tenho esse direito - e vou lutar com todas as minhas forças para conseguir isso.

Invisível

Quando ando pela escola parece que isto não tem nada a ver comigo.
Não me identifico com a maioria das pessoas, são todas tão diferentes de mim. Estão sempre em grupinhos, a falar e a rir…
Ninguém sabe o que é sentirmo-nos sozinhos. Ninguém sabe o que é sentir o que eu sinto: uma solidão infinita. Uma solidão que nunca mais acaba...
E que se calhar nunca acabará!

Tristeza...

Estou triste, triste como nunca pensei que alguém pudesse estrar. Eu gosto tanto dele e dói tanto saber que ele gosta é da minha melhor amiga e que não significo nada... Ele era a minha única hipotese, mas tudo isso acabou no momento em que o vi com a minha melhor amiga. Já percebi que só vou ser feliz quando for bonita e magra. Só vou ser feliz quando for como a minha melhor amiga, que não sabe o que é sentir-se feia, gorda e ignorada como eu.

Desilusão

Não vou conseguir esquecer tão cedo o que aconteceu esta tarde. Descobri que o rapaz de quem gosto anda com a minha melhor amiga e pior que isso foi vê-los a beijarem-se no meu quarto. No entanto, não percebi bem o que estava a passar-se porque ele foi bruto com ela.

Uma luz...

Hoje reacendeu-se uma pequna luz no meu coração, apesar de toda a confusão que permanece na minha cabeça.. Sera que estive a fazer uma tempestade num copo de agua? O rapaz que amo disse-me tudo o que eu queria ouvir, e pareceu ser sincero.. eu quero acreditar nele e acima de tudo quero ser bela para que ele possa gostar de mim da mesma maneira que eu gosto dele. Mas para isso não posso engordar e tenho de ser mais determinada que nunca.

Este mundo não é para gordos

O meu pai tem uma paciente que dizem que é anórectica. Porque é que está internada? Porque quer ser magra. É isso mesmo. Ela só quer ser magra. Eu compreendo, mas parece que mais ninguém. Acham logo que as pessoas estão doentes, que têm de ser internadas, vistas por psiquiatras. Que mania a de porem rótulos nas pessoas!

Será que as pessoas não percebem que não há lugar para os gordos neste mundo? Ninguém gosta de uma miúda gorda! Ninguém olha para ela! Ninguém!



Pesagem...

Hoje foi um dia igual a todos os outros. O espelho continua a mostrar-me o que não quero ver e a balança a marcar o que eu não quero para mim. Tenho mesmo de fechar a boca. Preciso de perder mais peso. Sinto-me tão gorda.


Amizade

Tenho uma amiga. Uma única amiga. Chama-se V. e somos amigas desde pequenas. A V. é mais bonita que eu, mais magra que eu e, como é óbvio, tem mais sucesso com os rapazes. Tem muita experiência com o sexo oposto e desperta a atenção deles. Este ano, na nossa turma, temos um aluno novo que chumbou. É o M. e ele é giro e simpático. Ele precisa de ajuda nos trabalhos da escola e para os testes e eu ajudo-o. Não me importo. Gostava que ele olhasse para mim como olha para a V., mas é normal que não o faça. Quem sou eu e porque é que um rapaz como o M. olharia para mim?


Step by Step

Fiz uma hora de Step. A ginástica é minha aliada. Quanto mais calorias queimar, mais perto estou do meu objectivo.


Cada ervilha conta, cada grão de arroz faz a diferença

Não querer engordar é uma luta diária, mas compensa e há dias em que temos as nossas vitórias. Esta semana já tive uma. Perdi 250 gramas e tenho a certeza que vou perder muito mais. A minha força é mais forte do que tudo. A luta contra o peso é a minha missão. Não vou baixar os braços e vou conseguir sentir-me magra. E aí, tudo vai ser diferente. Aí, vou conseguir ser feliz.

Às vezes sinto que sou a única, mas quero acreditar que não. Tenho esperança que haja alguém que pense como eu, que perceba o que eu sinto e que me compreenda… Sinto-me tão sozinha nesta vida. Gostava de ser diferente, de ser outra pessoa, de conseguir ser como a minha irmã, que eu adoro, e que é linda, inteligente e desperta a atenção de todos os rapazes. Acho que nunca nenhum rapaz se vai interessar por mim. Sinto-me desconfortável ao pé deles... Não gosto de mim e acho que ninguém vai gostar...

Engordei!

O meu pior pesadelo deste Natal tornou-se real. Ganhei coragem e fui pesar-me. A balança mostrou-me o que eu não queria ver. Esta época, onde não se faz outra coisa que não comer, fez-me engordar. Se a minha família já me achava feia antes, quando me compraram os presentes, nem imagino o que vão pensar quando esta histeria acabar e olharem para mim como deve de ser. Mas eu não vou baixar os braços. Eu vou continuar a lutar. Mesmo sem forças, o meu corpo vai obedecer-me e vou fazer ginástica até ficar como me quero sentir: magra e linda. Porque é isso que eu quero ser: uma rapariga a quem todos chamem gira.