... E eu continuo sozinha. Não tenho namorado e não sei se algum dia vou ter alguém apaixonado por mim que me ofereça flores e chocolates (que nunca comeria). Apesar disso, não estou tão triste como achei que estaria.
EU
Quem sou eu? Não me sei definir... Podia dizer que sou boa aluna, muito boa aluna, mas acho que ainda poderia ser melhor. Afinal, é a única coisa em que sou boa. Também sei escrever. Talvez por ter lido sempre muito. Os livros não me faziam perguntas nem me questionavam. Eram e são o meu refúgio. Ao ler, viajo, e posso ser quem quero. Sinto-me leve... Ao contrário da realidade. Odeio a imagem que tenho de mim - e que os outros também têm - e os meus maiores inimigos são o espelho e e balança. Tenho terror de engordar, de me transformar numa gorda, pois aí é que tudo será pior...
A minha vida em teatro
Há uns tempos, quando não estava doente e a palavra anorexia ainda não morava cá em casa, escrevi uma peça de teatro que apresentei a um concurso literário. Passou algum tempo e, sem notícias, acabei por esquecer-me do concurso e até daquela peça. Mas, surpresa das surpresas, as notícias chegaram e eu venci o concurso. A directora da minha escola gostou muito da peça, propôs-me encená-la na escola e escolher alguns colegas meus para serem os actores.
Ao início, não fiquei muito entusiasmada com a ideia. A última coisa que queria era ser o centro das atenções e muito menos ser encenadora... Não tinha experiência nenhuma e as probabilidades de falhar eram mais que muitas. E eu não podia falhar, para mim isso nunca foi uma opção. Mas acabei por deixar-me convencer pela minha família, pela directora e pela minha melhor amiga, que ficou sempre do meu lado. E agora posso dizer que não me arrependo nem um bocadinho.
Estamos já a ensaiar e as coisas estão a correr tão bem que às vezes ainda não acredito que isto é mesmo real e que vai acontecer. Os meus colegas têm sido espectaculares comigo: apoiam-me, recebem as minhas críticas com um sorriso, têm uma paciência gigante para o meu perfeccionismo e dão-me confiança quando me sinto com mais dúvidas. É graças a esta peça, e a todos os que estão a ajudar-me a pô-la de pé, que todos os dias vou dando mais um passo a caminho da minha recuperação. Porque não quero, nem vou, ficar presa a esta doença para sempre. É uma promessa.
Começar de novo
A noite passada os meus pais encontraram-me desmaiada na cozinha. Tinha-me levantado para tentar comer alguma coisa, sentia-me mais fraca do que nunca, e percebi que o meu corpo não ia aguentar. E não aguentou… A ausência de comida fez com que eu tenha ficado desidratada e a precisar de cuidados médicos. Durante algum tempo não quis aceitar o que me diziam, mas todos à minha volta estavam certos: eu estava doente. ESTOU doente. Tudo o que escrevi aqui até hoje são palavras de alguém que se deixou levar por sentimentos de fraqueza. Não de fraqueza física, mas fraqueza de espírito. Sim, continuo a sentir-me gorda e feia. Mas hoje sei que fui eu que me habituei a ver-me dessa maneira, que cheguei a um ponto em que me recusei a pensar o contrário. É mais cómodo sentirmo-nos infelizes do que procurar a felicidade. Mas a partir de hoje eu quero ser feliz e para isso, não posso continuar a destruir o meu corpo. Nos últimos dias apercebi-me que tenho qualidades que não se centram apenas na beleza física. Apercebi-me que há pessoas à minha volta que me dão valor. E isso faz-me sentir bem. E tenho esperança que aos poucos, se me centrar nessas qualidades, consiga sentir-me melhor comigo mesma. Quem sabe até mais bonita. Não acreditem no que vêem no espelho. O espelho é mentiroso e as nossas inseguranças também. Acreditem em vocês, acreditem nos vossos amigos e na vossa família. Eles, sim, são a voz da razão. A partir de hoje não vou mais sentir-me sozinha com o espelho. A partir de hoje, sou a Teresa que quer voltar a viver.
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