Desde que comecei a ir ao psiquiatra que me sinto mais forte. Sinto que vou conseguir ultrapassar esta doença. Por outro lado, quando cedo à tentação de me pesar, parece que o mundo se vai desmoronar à minha volta e que a força me abandona. A minha irmã disse-me que eu não estou a engordar, que estou a ficar menos magra e com um ar mais saudável, mas não é isso que eu vejo quando olho ao espelho ou quando tenho um prato de comida à minha frente. Continua a ser difícil, mas eu sei que este é um longo caminho e que o vou percorrer um grama de cada vez.
EU
Quem sou eu? Não me sei definir... Podia dizer que sou boa aluna, muito boa aluna, mas acho que ainda poderia ser melhor. Afinal, é a única coisa em que sou boa. Também sei escrever. Talvez por ter lido sempre muito. Os livros não me faziam perguntas nem me questionavam. Eram e são o meu refúgio. Ao ler, viajo, e posso ser quem quero. Sinto-me leve... Ao contrário da realidade. Odeio a imagem que tenho de mim - e que os outros também têm - e os meus maiores inimigos são o espelho e e balança. Tenho terror de engordar, de me transformar numa gorda, pois aí é que tudo será pior...
Irmãs e amigas
A minha irmã foi super querida comigo e ajudou-me nesta minha recaída.
Sempre a achei mais bonita do que eu, mais inteligente do que eu... A Ana Rita é a miúda gira da escola com quem todos os rapazes querem andar e eu sempre me senti, e ainda me sinto, o patinho feio. Agora já consigo ver que não é bem assim, mas não sou capaz de deixar de sentir que ela é melhor que eu. E ela é! Porquê?! Eu já a tratei mal, já me afastei dela, mas agora quando precisei... ela esteve ao meu lado e ajudou-me sem me denunciar aos meus pais.
Eu sei que se esperam estas atitudes dos irmãos, mas a verdade é que o que me aconteceu uniu-nos como nunca. A Ana Rita mais do que uma irmã está a tornar-se numa das minhas melhores amigas. Sentir que ela se preocupa comigo, que é minha cúmplice e que, quando eu conseguir, lhe posso contar tudo o que me vai na alma, é uma sensação muito boa.
Sinto que quase dei um passo atrás na minha recuperação, mas que dei um grande salto no que sinto e no que me liga à minha irmã.
Sinto que quase dei um passo atrás na minha recuperação, mas que dei um grande salto no que sinto e no que me liga à minha irmã.
Um passeio diferente
Hoje à tarde fui dar uma volta com o namorado da V.. Ela não pôde ir e sugeriu que fossemos os dois. Adorei o passeio, o B. é muito parecido comigo. Ambos nos sentimos estranhos na nossa pele e estamos a dois a fazer um esforço pra lidar com as pesssoas a nossa volta.
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